Mapeamento Cultural no Brasil - Entrevista com Dalton Martins

De Pontão Nós Digitais
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No intuito de aprofundar questões conceituais e técnicas sobre Mapeamento Cultural no Brasil foram realizadas uma série de entrevistas que podem ser vistas nessa wiki ao acessar a tag Mapeamento Cultural no Brasil inserida no rodapé desta página.

Essa entrevista foi concedida em meio virtual (email) e presencial, na data de 22 de agosto de 2011.

Entrevistado: Dalton Martins

1 - Como e quando surgiu a idéia do Conversê?

Dalton Martins: O Conversê surgiu de algo que a gente já vinha experimentando antes mesmo de entrar na relação com o Cultura Digital. Tínhamos feito uma experiência em 2003/2004 nos telecentros de SP com uma rede que havíamos chamado de LigaNois, com o objetivo de ampliar os espaços de conversação de usuários de telecentros. A rede chegou a ter mais de 1000 usuários, mas como era hospedada num servidor na casa do Felipe, acabou saindo do ar por falta de infra-estrutura. O ligaNois serviu como uma base fundamental para o que viria a ser o Conversê. O felipe documentou isso num relato muito interessante que pode te ser útil nesse artigo:


2 - Quanto tempo durou?


Dalton Martins: Aproximadamente 3 anos, entrou no ar em fevereiro de 2005 a outubro de 2007.


3 - Quais as ferramentas utilizadas? (lembro que drupal...)


Dalton Martins: Basicamente, tudo Drupal 4. No relato do Felipe, há um pouco mais de detalhes nos módulos. Mas, era basicamente um grande blog coletivo, onde as pessoas poderiam comentar os posts umas das outras.


4 - Quem esteve envolvido no projeto (na gênese e no caminho)? Tecnicamente, conceitualmente ou não.


Dalton Martins: Foi principalmente uma ação do Felipe Fonseca e do Daniel Pádua, que acabou integrando o Ricardo Ruiz e outros membros que estavam se articulando em torno do Cultura Digital. Tecnicamente, acabou envolvendo a equipe de TI do Asa e do Alê, que ficaram responsáveis por manter/customizar o sistema. No final, o Fabiano Wundo acabou entrando na jogada. O problema é que o sistema acabou ficando em segundo plano em termos de manutenção, pois as equipes focaram demais no Estúdio Livre, o que acabou gerando vários problemas que levaram a saída do ar do ambiente.


5 - Quais eram as implicações disso em termos de fomentar o ações em rede?


Dalton Martins: Muitas. O conversê era para ser um ambiente de integração das pessoas que participavam dos Encontros de Conhecimentos Livres, além de agrupar em torno dos pontos de cultura, gesac, telecentros qualquer pessoa que tivesse interesse de encontrar na conversa. Era para ser um sistema simples, de fácil acesso e com poucas possibilidades de módulos de interação, favorecendo mais a conversa e encontro entre pessoas. Teve uma dinâmica muito interessante, apesar de bastante diferente do que muitos haviam imaginado para o sistema. Te repasso aqui parte de um estudo que estou escrevendo sobre a dinâmica de funcionamento do Conversê, que acredito que possa te auxiliar em compreender isso:


"O resultado das análises quantitativas mostram claras tendências e movimentos de produção e apropriação da informação operados pelos usuários em sua dinâmica de conversação no uso dos comentários do sistema de blogs da rede Conversê.

Uma dinâmica fundamental que identificamos através das análises é a maneira como o comportamento da rede termina por ser fortemente influenciado pela dinâmica de chegada de novos usuários. As curvas entre usuários antigos e usuários novos apresenta uma correlação moderada durante todo o período, se intensificando de outubro de 2005 a maio de 2007, período que representa mais de 70% do tempo de existência da rede. Os resultados evidenciam uma forma de acoplamento dinâmico entre o padrão apresentado pelos novos e antigos usuários em atuação na rede a cada mês. O comportamento e a produtividade dos usuários mais antigos da rede parece ser motivado pela manifestação dos novos usuários, quando demarcam sua presença na rede e são acolhidos pelos usuários mais antigos. Uma informação que nos apoia nessa hipótese é o crescimento da frequência das palavras “olá” e “oi” no quarto e quinto semestre, meses que são coincidentes com o aumento expressivo no crescimento mensal de usuários cadastrados. Outra evidência é o fato das palavras “olá” e “oi” terem sumido da relação de mais utilizadas no último semestre, dado que coincide com o momento onde a rede tem menos usuários antigos participando desde seus primeiros meses.

A rede, ao que tudo indica, serviu como um espaço de encontro inicial entre os diversos usuários que participaram das ações relacionadas aos Pontos de Cultura, sendo os novos participantes recebidos pelos mais antigos e introduzidos na plataforma.

A perenidade dos participantes ao longo dos meses de existência da rede parece também nos mostrar uma forte presença de participações pontuais dos usuários, dado que um número de aproximadamente 40 usuários mantiveram seus comentários ativos por um período maior do que 6 meses, o que nos ajuda a caracterizar como a rede foi apropriada como espaço de conversação. Vale mencionar que valeria averiguar a porcentagem desses usuários que faziam parte das equipes de apoio e manutenção do espaço da rede contratadas pelo Ministério da Cultura com o objetivo de moderação, suporte e acompanhamento dos usuários participantes.

Dessa forma, podemos supor a existência de três agrupamentos que se apropriaram de forma diferente da rede Conversê: um grupo pequeno de usuários (em torno de 5% dos ativos) com intensa participação na plataforma, um grupo intermediário de usuários (em torno de 25% dos ativos) que mantiveram conversas e colaborações por mais de um mês e um grande grupo de usuários (em torno de 70%) que apenas apareceram pontualmente sinalizando sua presença na rede.

De forma geral, a rede teve dois grandes momentos divididos por uma forte alternância de padrões entre os meses de agosto e novembro de 2006, o que modificou de forma sistemática a dinâmica de conversação. É a partir desses meses que se acentua a chegada de novos usuários, porém reduzindo o número de comentários que são publicados. A rede parece operar a partir de duas dinâmicas que lhe são antagônicas no último ano de sua existência: se torna mais conhecida atraindo novos participantes, porém seu espaço como ambiente relevante para conversa e colaboração entre os participantes perde gradativamente sua potência.

As evidências nos levam a considerar que a rede Conversê serviu como um espaço que atraiu uma quantidade expressiva de usuários em seus quase 3 anos de existência. A rede atraiu pessoas em busca de informações e divulgação de suas ações sobre os Pontos de Cultura, produzindo uma dinâmica de apropriação desse espaço onde a chegada de novos usuários e seus comentários impulsionaram a dinâmica de conversa. No entanto, poucos usuários mantiveram interesse em continuar ativos na produção de comentários para além de seu momento de chegada. Ao que tudo indica, a rede Conversê teve um papel como espaço de acolhimento mais do que espaço de colaboração e produção contínua na dinâmica de interação entre seus usuários."

6 - O conversê vislumbrava ser um espaço para fazedores culturais? ou não necessariamente?

Dalton Martins: Não necessariamente. Ele tinha por objetivo ser um espaço que se relacionasse com outros programas do Gov, inclusive, tipo Gesac, Casa Brasil e outras coisas que estavam surgindo no cenário. A ideia era ele ser um grande espaço de articulação e integração.

7 - Você conhece outras experiências de plataformas (brasileiras ou não) cujo escopo esteja ou esteve próximo de mapeamentos culturais, mapeamentos de ações/espaços/serviços culturais? Essa pergunta abrange desde coisas como mapas da rede (mapsys) até catraca livre.


Dalton Martins: Cara, o que foi nessa vertente e que acabou dando mais "certo" foi o Overmundo. A parte desses, não conheço muitos outros não.